Diversidade: sem mudar a cultura, você só maquia o número

O Digiday tem uma série chamada Confession que troca o anonimato de profissionais por conversas francas. Em um dos papos, trouxe um executivo que deu um recado direto sobre os programas de diversidade de agências e empresas:

Sem mudar a cultura ~racista~, você só maquia o número. 

Isso, obviamente, não resolve o problema. Pode, inclusive, piorar, uma vez que se a tentativa de contratar pessoas negras não der certo, existe a possibilidade de demitir e justificar que houve o esforço.

Quartz também fez uma matéria abordando a razão pela qual os programas de diversidade de empresas nos Estados Unidos falham, ainda que um terço delas tenham profissionais de diversidade em cargos de direção.

A resposta óbvia é porque a sociedade americana é racista, mas o texto traz algumas pistas do porquê isso acontece, como sistemas de avaliação desenvolvidos para performance de pessoas brancas, programas de diversidade deixados nas mãos de funcionários pouco representados e líderes nada preocupados em mudar a cultura do ambiente de trabalho – desenvolvido para promover o conforto e sucesso de pessoas brancas.

Hoje, muito se fala de racismo estrutural, mas racismo também é institucional e sistêmico, como bem nos lembra o professor Silvio Almeida.

Está dentro de instituições (públicas e privadas) que não foram desenvolvidas para receber pessoas negras. Foram desenvolvidas para nos deixar de fora.

Lá nos Estados Unidos, como aqui no Brasil.

A verdade é que a foto coletiva de agências e empresas sem pessoas negras é apenas sintoma. O problema está em uma cultura empresarial que não se enxerga racista, não se preocupa em alterar as próprias regras e padrões, mas hoje quer pessoas negras por perto para não prejudicar sua reputação.

Claro, sem mudar o número dificilmente haverá mudança cultural, mas é preciso que  lideranças questionem as práticas racistas do dia a dia e proponham soluções que sejam implementadas em suas gestões e planejamentos.

Porque é fácil se eximir da responsabilidade de uma cultura empresarial racista através de programas de diversidade que ajudam a contratar e “capacitar” pessoas negras, sem considerar que a principal mudança deve ser de dentro para fora.

Diversidade não deveria ser aceitar os mais iguais.

Como já falaram, a cultura come a estratégia no café da manhã.

Se é verdade, me pergunto em que momento a cultura racista de agências e empresas engole os programas de diversidade?

Sem questionar processos e políticas de contratação, recepção, remuneração, treinamento, avaliação, promoção e posição em que pessoas negras estão, receio dizer que é só o aperitivo.

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